Agora, então, é como se tivéssemos voltado dois anos e meio no tempo. Entre 19/06/2019 e hoje, o S&P 500 subiu 54%. O Ibovespa, 0% – e levando couro da inflação, que acumulou 15% nesse período.
E olha que o mercado tinha acordado confiante nesta quarta-feira.
O motivo? Hoje era o dia do último capítulo da segunda temporada da PEC dos Precatórios. Mas Brasília está cheia de plot twists.
A votação já estava na agenda do Senado, marcada para começar às 16h. Se aprovado, aí seria dada a largada para a terceira temporada – o texto voltaria para a Câmara, paar que os deputados analisassem as mudanças feitas pelos senadores.
Acontece que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) precisou sabatinar André Mendonça. O ex-ministro da Justiça foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro ao STF. Isso levou o dia todo e acabou ocupando o espaço dedicado à PEC.
Por causa disso, o relator da PEC, Fernando Bezerra, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, optaram por deixar a votação para amanhã. A agenda lotada também foi uma boa desculpa para Bezerra ganhar tempo e conquistar mais alguns senadores. Assim, fica mais fácil conseguir os 49 votos necessários para aprovar o texto no plenário.
Só para relembrar: a PEC visa adiar o pagamento das dívidas judiciais da União para abrir espaço no Orçamento de 2022. Assim, o governo consegue pagar o Auxílio Brasil de R$ 400 sem estourar o teto de gastos. Além disso, ela também altera o cálculo do teto – hoje, é levado em conta o IPCA acumulado em 12 meses até junho do ano anterior. A proposta indica que o cálculo considere a inflação de janeiro a dezembro.
O mercado está ansioso para que a PEC seja aprovada, porque isso significa um risco fiscal menor. Caso a proposta não saia do papel, o governo pode decretar um novo estado de calamidade pública – tirando qualquer limite de controle de gastos em pleno ano eleitoral.
Resultado: Ibovespa de volta à casa dos 100 mil pontos redondos. A indicação de Mendonça, só para constar, foi aprovada: 18 votos a favor e nove contra.
Wall Street
Lá fora, o dia também não foi de céu azul. Os índices americanos começaram o dia sinalizando uma recuperação do tombo de ontem. O mercado até superou um segundo discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, confirmando a intenção de acelerar a retirada dos estímulos econômicos – só para relembrar: depois de passar meses dizendo que a inflação americana era um fenômeno transitório, Powell deu o braço a torcer ontem e afirmou que não, que os preços sobem em grande parte porque o Fed imprimiu dólares demais – e que agora vai ter de fechar a torneira.
Durante a audiência no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, Powell disse que o banco central americano vai discutir o ritmo do tapering (que é a redução dos estímulos) na próxima reunião, marcada para os dias 14 e 15 de dezembro.
Ele ainda destacou que o Fed está mesmo retirando a expressão "temporária" de seus relatórios de inflação – de forma coerente com a afirmação de ontem.
Mas rolou um plot twist lá também: o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA confirmou o primeiro caso da variante Ômicron no país (no Brasil, isso aconteceu ontem, com dois casos confirmados no Estado de São Paulo).
Essa foi a gota d'água que desandou com o rumo positivo de Wall Street. O Nasdaq derrapou 1,83%, aos 15.254 pontos. Enquanto o S&P 500 caiu 1,18%, aos 4.512 pontos.
Há(algumas) vagas
Mas teve notícia boa também. Lá nos EUA, o setor privado desacelerou a criação de postos de trabalho no mês de novembro, de acordo com o relatório divulgado pela ADP, empresa que administra as folhas de pagamentos de boa parte das companhias americanas.
No período, foram criados 534 mil postos de trabalho – uma redução, quando comparada às 571 mil vagas que abriram em outubro. Ainda assim, o resultado ficou acima das previsões, que apontavam para apenas 506 mil postos.
Mas a ADP é só uma prévia. O mercado quer saber mesmo é do payroll, que sai na sexta-feira. Trata-se do relatório oficial de como anda o mercado de trabalho lá nos EUA, que inclui as vagas do setor público e uma leitura mais ampla do privado.
Commodities
O preço do minério de ferro avançou 2%, no porto chinês de Qingdao, para US$ 104,49 a tonelada. É o nível mais alto desde 29 de outubro, quando encerrou a US$ 107,28. Apesar da melhora, a desvalorização acumulada do minério em 2021 ainda é de 34,9%.
Parte do nosso setor de mineração e siderurgia acompanhou a alta de hoje. O destaque ficou com a Metalúrgica Gerdau (GOAU4), que subiu 1,78%. Em seguida, estão as altas da Gerdau "normal" (GGBR4, 1,51%) e Vale (0,31%). Já a Usiminas ficou no negativo (-0,96%), junto com a CNS (-0,51%).
O petróleo, por outro lado, não teve um bom dia: o tipo Brent, que é referência internacional, caiu 0,52%. Já o WTI, referência no mercado americano, recuou 0,92%.
As quedas aconteceram na véspera da reunião dos maiores exportadores da commodity, a Opep+. O grupo irá discutir sobre a sua produção mensal e as ameaças da Ômicron no setor. A expectativa do mercado é de que o plano de ampliar a produção em 400 mil barris por dia durante o mês de janeiro seja cancelado – uma eventual ascensão da variante derrubaria a demanda, mal momento para aumentar a oferta.
Mesmo assim, nossas petrolíferas brasileiras conseguiram se segurar. Os papéis da Petrobras subiram 0,41%, seguidos de perto pela PetroRio (0,30%).
E para amanhã, fica o suspense: o Ibovespa perde os três dígitos? Organize o seu bolão aí.
Maiores altas
Braskem (BRKM5): 5,91%
Suzano (SUZB3): 3,28%
Metalúrgica Gerdau (GOAU4): 1,78%
Gerdau (GGBR4): 1,51%
Weg (WEGE3): 0,81%
Maiores baixas
Magalu (MGLU3): -11,15%
Méliuz (CASH3): -10,37%
Locaweb (LWSA3): -9,93%
Via (VIIA3): -8,29%
Marfrig (MRFG3): -7,21%
Ibovespa: -1,12%, aos 100.774 pontos
Em NY:
S&P 500: -1,18%, aos 4.512 pontos
Nasdaq: -1,83%, aos 15.254 pontos
Dow Jones: -1,34%, aos 34.021 pontos
Dólar: 0,63%, a R$ 5,6708
Petróleo
Brent: -0,52%, a US$ 68,87
WTI: -0,92%, a US$ 65,57
Minério de ferro: 2,05%, US$ 104,49 no porto de Qingdao (China)
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