Tenho achado cada vez mais difícil ser "jovem". Eu não sou nada velho. Tenho praticamente 35 anos. Meus melhores anos estão à minha frente. Meu pico ainda não chegou. Ao mesmo tempo, também não sou um ícone de juventude. Não sou mais garoto. Meus 20 anos já são passado. Mas, à medida que vamos nos descolando das fases mais jovens, vamos também nos descolando também da própria juventude. O que é a juventude? Curiosidade, abertura, improviso, ligar o foda-se. Experimentar, permitir-se mudar completamente de estilo, de ideias, de caminhos para seguir, ir acampar, aceitar dormir num quarto de hostel com outras 15 pessoas. Quem aí não entrou na faculdade de um jeito e saiu COMPLETAMENTE diferente? Não sei vocês, mas aconteceu comigo. Faculdade é um lugar de descoberta de novas pessoas, de outras referências, de expandir nosso campo de visão. Isso faz com que a gente, tendo maior repertório, possa fazer escolhas mais condizentes com aquilo que somos ou queremos ser. Quanto mais velho a gente fica, mais difícil fica mudar. Quanto mais velhos ficamos, mais caminhamos para a estabilidade, para a manutenção das coisas, para a rotina. Isso porque vamos nos apegando àquilo que nos faz sentido e formando nosso "eu maduro". Esse nosso eu adulto não é tão fã assim de mudanças. Se mudar de faculdade com 20 anos é tranquilo, mudar de profissão com 30 já são outros 500. Ficamos reconhecidos por algumas coisas e nossa zona de conforto está bem estabelecida. Somado a isso, colecionamos responsabilidades que precisam de mais seriedade para que sejam cumpridas. É fácil ser malucão na juventude, mas é bem mais difícil se arriscar com uma criança pequena para ser criada. Quanto mais a gente vive, mais difícil fica deixar de ser quem a gente é. Quanto mais tempo a gente já viveu, mais tempo a gente foi aquilo que a gente é. Tipo, a cada ano que passa, é um ano a mais que eu fui eu. Logo, não ser eu fica mais difícil, porque cada ano é somado aos anos anteriores, o que forma um grande bolo de coisas que você é. Tão me acompanhando? O que eu quero dizer é: ficar velho é ter cada vez mais certezas. Quando falo em certezas, o que quero dizer é que, com a idade avançando, aquilo que consideramos o certo pra gente é cada vez mais certo. Nossas convicções não estão mais tanto à prova. Sabemos como somos. Estamos mais "definidos". O que antes nos estimulava e despertava interesse na juventude, agora surge para desafiar aquilo que sabemos. Um novo aplicativo que todo mundo usa, uma visão política, uma viagem aleatória, uma pessoa nova no grupo de amigos, um novo estilo de roupa, e por aí vai. Se antes a gente abraçava mais o novo, agora o novo é pedra no caminho. É como se a gente pensasse que estamos "prontos", mesmo não tendo nem metade da idade que teremos no dia da nossa morte. Faz sentido isso pra vocês? Tenho achado cada vez mais difícil ser "jovem". Mesmo consciente de que isso está acontecendo, esse sentimento ainda se faz presente. Me pego impaciente ou receoso com o novo. Me pego mais fechado. Como diz um provérbio que não sei onde li (talvez em algum texto dos links dessa newsletter): "It's what you learn after you know it all that counts." (O que importa é o que você aprende depois de saber algo) Sabendo disso, a responsa agora é minha. O meu papel é perceber que isso existe e não deixar que a velhice barre as maravilhosas habilidades que a juventude carrega. Como eu não quero parar no tempo, cabe a mim me abrir para novidades, questionar minhas certezas e, sempre que possível, colocar em prática a juventude que tanto já usufruí. Agir como quem tem 15, 20, 25 anos. Agir para dar espaço para mudança quando necessário. Obviamente a minha experiência também vai trazer certezas bem firmes que são resultado da própria experiência, mas isso não precisa atingir todas as áreas da minha vida. Por fim, me pergunto: se isso está pegando agora que sou um novo velho, como vai ser daqui 20 anos? E quão difícil vai ser exercer a juventude com muito mais idade do que tenho hoje? Como faz para não ser intransigente? Espero um dia descobrir. Espero que gostem dos links. - Tirinha do mês. - Estamos perdendo insetos do planeta numa taxa de 2.5% ao ano, e isso é muito preocupante. - Como aprender com os erros? Monja Cohen responde de forma maravilhosa. - O que é o suficiente pra você? Entender o que basta para você pode ajudar a não ficar se comparando tanto com os outros ou buscando algo que não tenha valor. - Conhecem o Marcio Libar? O TED do mês é com esse cara que virou palhaço mas também sabe falar muito sobre coisa séria. - A relação entre o taoísmo e a o conceito de flow: como deixar as coisas fluírem ao aproveitar o presente. - Vivemos em toda a vida cerca de 26.500 dias. E aqui tem uma boa história sobre como podemos lidar com essa informação (e com o fato de que esses dias acabam). - Um dos meus autores favoritos tirando conclusões incríveis, e completamente pertinentes para o contexto atual do mundo, do último filme Vingadores. Achei maluco como ele conseguiu enxergar tanta coisa sobre a sociedade em um filme que, na teoria, se passa em outro universo. Seria o coronavírus o começo do fim? <3 |
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