Quem acompanha o mercado financeiro parece nunca estar satisfeito. Entre 2013 e 2015, quando as ações ficaram patinando, quase sem sair do lugar, a reclamação era a de que o investimento não valia o risco. Em 2016 esse movimento mudou, e o Ibovespa emendou quatro anos seguidos de alta, tendo ganhado mais de 30% só em 2019. A Bolsa saiu de cerca de 43 mil pontos no final de 2015 para mais de 113,3 mil pontos na última sexta-feira (21). Agora o temor é que a Bolsa tenha virado uma bolha prestes a estourar. No mercado financeiro, a bolha acontece quando algum ativo —como ações, por exemplo— é negociado a preços muito mais altos do que ele de fato valem. Nesse processo, o volume de negociações e o número de investidores passa a crescer muito rapidamente. Muita gente vê a valorização, pensa que é uma oportunidade de ganhar e entra no negócio, o que vai alimentando ainda mais a bolha. O estouro da bolha faz o preço do ativos despencar e muita gente perder dinheiro. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a bolha da internet, ou das pontocom, no início dos anos 2000, e com o setor imobiliários norte-americano, em 2008. Será que o medo de uma bolha na Bolsa brasileira procede? Bolsa cresce descolada do PIBDe fato, dizem especialistas, é inegável que a valorização da Bolsa está associada ao aumento no número de investidores. Entre 2016 e 2019, a quantidade de pessoas físicas investindo no mercado acionário mais do que quadruplicou, chegando a 1,5 milhão. Nesse período, o Ibovespa subiu: - 38,9% em 2016
- 26,9% em 2017
- 15% em 2018
- 32% em 2019
Essa valorização da Bolsa ocorreu de forma descolada do desempenho da economia. O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro caiu 3,3% em 2016. Nos três anos seguintes, ele até cresceu, mas pouco, perto de 1%. Profissionais de mercado que alertam para o risco de uma bolha se formar na Bolsa, como o presidente do banco Itaú, citam esse descompasso entre economia real (PIB) e Ibovespa como um sinal a se observar. Mas analistas ouvidos pelo UOL contestam esse argumento. Para eles, é verdade que em termos nominais (sem considerar a inflação), o principal índice acionário do país bateu recordes. Porém, quando se faz uma comparação com outros indicadores da economia, como inflação e dólar, a situação muda. Bolsa está longe do recorde real, de 2008"Se corrigirmos o Ibovespa pela inflação ou pelo dólar, veremos que ainda estamos longe dos recordes históricos", afirmou Einar Rivero, gerente de relacionamento da empresa de informações financeiras Economatica. O recorde real da Bolsa, segundo Rivero, ocorreu em fevereiro de 2008. Na época, o Ibovespa atingiu cerca de 73,5 mil pontos, em valores nominais. Considerando a inflação acumulada desde então, essa pontuação corresponderia hoje a 140 mil pontos. Bem acima, portanto, dos 113 mil pontos atuais. Na comparação com o dólar, a situação é semelhante. Também em 2008, o Ibovespa em dólar valia 40 mil pontos. Hoje, o indicador vale 26 mil pontos em dólar. O levantamento indica que ainda há bastante espaço para o Ibovespa subir e recuperar o patamar que tinha há mais de uma década. Ainda vale investir?Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais, disse não acreditar em bolha na Bolsa. "Também não acho que as ações brasileiras estejam caras, até por causa da desvalorização do dólar, que deixou os ativos brasileiros ainda mais baratos", disse. O estrategista da Genial Investimentos, Filipe Villegas, vai na mesma linha. "Ainda vejo potencial de crescimento para a Bolsa, com a expectativa de que as reformas devam acontecer ou de alguma forma serem ser encaminhadas", afirmou. Bruna Pezzin, analista da XP Investimentos, Bruna Pezzin, diz que o grupo tem uma visão positiva para a Bolsa. Para a XP, o Ibovespa atual não deve ser considerado uma bolha. Por isso, ela descarta uma queda radical dos preços das ações. Veja abaixo por que a XP diz que a Bolsa ainda deve subir. - Retomada econômica: Brasil saiu de uma recessão econômica e, agora, está retomando aos poucos o crescimento e ganhando tração. Com isso, a tendência é a que o ambiente de negócios seja mais favorável para as empresas. Com as companhias aumentando seus lucros, a Bolsa é beneficiada.
- Juros baixos: O ciclo de baixa da taxa básica de juros da economia atingiu a mínima histórica de 4,25% ao ano. Com a Selic nesse patamar, a rentabilidade dos investimentos de renda fixa acaba caindo. Por isso, há uma tendência pela busca de maiores retornos em um mercado de maior risco, como a Bolsa.
- Agenda de reformas: A aprovação da reforma da Previdência ajudou a estancar o rombo do orçamento do governo no curto prazo. No entanto, a continuidade do processo de reformas e ajustes é fundamental para garantir a continuidade do processo de recuperação da economia em 2020. Se as reformas seguirem, diz a XP, a projeção para o Ibovespa é chegar aos 140 mil pontos neste ano.
Pergunta da semanaO leitor Marcos Morales pergunta: "Como achar fundos imobiliários conservadores? Tem alguma dica?" Os fundos imobiliários, em geral, pagam rendimentos mensais, mas têm suas cotas negociadas em Bolsa de Valores. Portanto, estão sujeitos às oscilações de mercado e não podem ser classificados tecnicamente como investimentos conservadores. Os fundos imobiliários investem em diversos segmentos, tais como prédios corporativos, ativos logísticos, shoppings e ativos de renda fixa (como CRI e LCI). Para ser mais conservador, é recomendável dar preferência a fundos que tenham uma carteira mais diversificada e que possuam diferentes imóveis em sua carteira, em diferentes regiões e segmentos. Fundos que possuem apenas um imóvel na carteira podem trazer mais risco. Lembre-se sempre de que é importante respeitar seu perfil de investidor e procurar um especialista para auxiliar na escolha dos fundos. A resposta é de Guilherme Tozzi Moro, planejador financeiro certificado pela Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros). Queremos ouvir você Tem alguma dúvida ou sugestão sobre investimentos? Mande um email para uoleconomiafinancas@uol.com.br |
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