Os índices futuros nos EUA apontam para cima nesta manhã – e isso invariavelmente traz a perspectiva de que o mercado vá abrir em alta, seja por lá, seja por aqui também. A regra, porém, vale mais nas condições normais de temperatura e pressão. E isso é justamente o que o mundo NÃO está vivendo. Ontem mesmo, o S&P 500 abriu em alta e chegou a ficar gordos 1,9% no azul, para depois fechar em -1,2%.
O problema: os casos de Ômicron dobraram na África do Sul desde terça, e a variante vai se globalizando: já deu as caras em 24 países, incluindo EUA e Brasil. Ao mesmo tempo, outro vírus se multiplica pelo mundo: o da inflação.
O índice de preços ao produtor na zona do euro subiu 5,4% no mês de outubro, em relação a setembro, contra a previsão (já não exatamente otimista) de 3,8%. Esse índice é o IGPM deles. E já está maior até do que o nosso. São 21,9% na Europa, contra 17,9% no Brasil.
Por aqui, o IGPM já desacelerou – ficou estável em 0,02% no mês de novembro. Sinal de que as altas nos juros estão funcionando no combate à inflação. Mas não existe almoço grátis: juros lá em cima deprimem o mercado financeiro: daí a bolsa estar em seu pior momento do ano, de volta aos 100 mil pontos cravados.
No mundo desenvolvido, os juros seguem no chão. Mas a persistência da inflação por lá já ligou a sirene dos bancos centrais. Nisso, a Europa opera em queda, com o EuroStoxx 50, o índice das 50 maiores empresas do continente, abaixo de -1%.
Ou seja: com os futuros dos EUA apontando para cima e o mercado Europeu para baixo, a tendência para o começo do dia por aqui está indefinida.
A porca torce ainda mais o rabo por conta de uma questão maior. A Ômicron é um agente que diminui a inflação, por ter o potencial de reduzir a atividade econômica. Isso diminui a possibilidade de um aumento brusco nos juros mundo afora. Mas não se trata de algo positivo, muito pelo contrário.
A inflação de agora é fruto dos juros perto de zero impostos para estimular a economia no cenário pandêmico dos últimos quase dois anos. Mantê-los abaixo do nível natural por conta da nova variante cria uma bomba inflacionária de 200 megatons – que mais hora menos hora explode, com efeitos total e absolutamente imprevisíveis, já que o mundo desenvolvido considerava a inflação fora de controle uma doença erradicada há mais de 30 anos.
Ah, claro: tem a votação da PEC do teto de gastos no Senado agora de manhã, e o que está "precificado" é a aprovação. Mas diante dos dois agentes infecciosos globais – vírus e inflação, o fim dessa novela não basta para trazer um alívio minimamente duradouro.
Não estamos, afinal, nas condições normais de temperatura e pressão.
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