Links do mês #109 e o ano em que Porto Alegre virou um campo de golfeVem conhecer a história de como 50 reais viraram uma campanha nacional de combate ao descaso com as ruas pelo Brasil
O ano era 2011. Eu e dois amigos tínhamos um projeto paralelo chamado Shoot The Shit. A maioria aqui deve saber da Shoot, mas quem chegou recentemente por outros motivos talvez não conheça. A Shoot tinha uma dinâmica muito simples: nós nos reuníamos semanalmente para pensar projetos criativos que ajudassem a melhorar a cidade de Porto Alegre. Esses brainstorms eram super abertos. Não havia muito direcionamento. Não tínhamos dinheiro, nem formatos ou prazos para cumprir. Nossas únicas obrigatoriedades eram gastar pouco e ser criativo. Como não tínhamos verba, nossos projetos eram em sua maioria intervenções urbanas. Coisas que fazíamos na cidade justamente por ela ser “de graça”. Certo dia, depois de uma viagem de férias à Inglaterra, o Gabriel chegou na nossa reunião semanal contando que havia comprado um taco de golfe. Ele não era um golfista e tampouco havia jogado golfe na vida. Gabriel era apenas uma pessoa aleatória que comprava coisas que achava interessante. Como na época a Libra Esterlina e o Real estavam mais próximos no quesito valor, o taco e a bolinha não custaram nem 50 mangos. Com um objeto tão distante da nossa realidade assim, começamos a pensar, nas nossas reuniões, em como usar ele para fazer alguma intervenção, porém nenhuma ideia boa surgiu. Vida que segue. Acontece bastante de um brainstorm não render. Dias mais tarde, estávamos indo para mais uma das nossas reuniões, quando, ao atravessar a rua, nos deparamos com um buraco no asfalto. Como 99,999999% das cidades brasileiras, Porto Alegre era (e ainda é) uma cidade esburacada. No momento que vimos o buraco, o taco de golfe se pagou: tivemos a ideia de jogar golfe nos buracos do asfalto da cidade para protestar contra a buraqueira da cidade. Bingo. Mapeamos alguns buracos “bons” para a prática do golfe, conseguimos emprestado uma bandeira oficial usada em campos de golfe, nos vestimos à caráter e, em uma manhã nublada de domingo, praticamos o esporte no asfalto porto-alegrense, gravando tudo para transformar a performance em um vídeo. O conceito criativo do projeto era “Porto Alegre, paraíso do golfe”. O vídeo era uma grande ironia sobre como a cidade era um ótimo lugar para a prática desse esporte. Por algum motivo, a gente achou legal levar o conceito de “paraíso” para os nossos nomes, e é por isso que no vídeo somos Luciano Heaven, Giovani Sky e Gabriel Paradise. Por quê fizemos isso? Vai lá saber haha Estávamos nos divertindo criando uma esquete, totalmente livres para criar o material que mais nos agradasse, ao invés de agradar um cliente. Reparem que eu e o Gabriel estávamos usando sapato social para jogar golfe. Na nossa cabeça, um esporte tão elitizado assim era jogado com calça e sapato social kkkkk  Como a Shoot The Shit não tinha site, blog ou nenhum canal relevante, criamos um tweet igual e nós 3 postamos em nossas redes sociais (Twitter e Facebook só, pois o Instagram ainda era um lugar para postar apenas fotos de comida e pôr do sol). Daí um tweet retweetou um tweet, e esse processo aconteceu outras milhares de vezes. Em dois dias, o vídeo era capa do Youtube no Brasil como um dos vídeos mais vistos com a tag humor. Daí o Brainstorm9 postou no seu blog, o Marcelo Tas fez o mesmo, e na mesma semana a gente era entrevistado pelo Bom Dia Brasil. Foram 7 dias malucos. Demos entrevista para Band, Globo, SBT, Record, Terra. Aparecemos em programas ao vivo jogando golfe no estúdio de gravação. Fomos convidados por um Golf Club para aprender o esporte. Ganhamos um prêmio no Festival de Publicidade como melhor ideia de impacto social. E como estávamos praticando um esporte, até o Globo Esporte deu moral para o vídeo (nada mais justo). Aqui um videocase mostrando várias dessas aparições.
Eram tantas aparições na TV aberta que a prefeitura teve que se mexer — leia-se fazer o seu trabalho. Como nós marcamos no vídeo as ruas em que jogamos golfe, a prefeitura foi lá e tapou os buracos dessas mesmas ruas, com o objetivo de impedir que a gente continuasse dando entrevista ao lado dos buracos já famosos.
Se você pensar que investimos apenas R$ 100 (taco, bolinha e gasolina), 10h de planejamento e mais umas 10h de execução (filmagem e edição do vídeo), o resultado foi estratosférico. Os 90 mil views no Youtube podem não parecer nada, —hoje um Tiktok qualquer pode chegar a milhões de visualizações — mas em 2011, 90 mil views era praticamente “parar” a internet. E não só mobilizamos pessoas online, como fizemos a pauta chegar na prefeitura e ela ativamente melhorar algo na cidade. Esse projeto mudou as vidas minha, do Gi e do Gab. E reforço: custou 50 reais. Corrigindo o valor para os dias atuais, seria, sei lá, R$ 300? (Na real joguei aqui no ChatGPT e ele falou 117,50 reais) Foi um projeto feito com nosso amor pela comédia e pela criatividade, junto de um conceito bem amarrado e que ressoava nas pessoas (todo mundo no Brasil mora em uma cidade esburacada). E que eu quis compartilhar com vocês para lembrar a gente (eu, incluso) de que, às vezes, não precisamos de cliente, de grande investimento, de edição profissional, de uma planilha enorme ou um deck de 40 slides para causar algum impacto. Precisamos apenas amar o que estamos fazendo. E fazendo porque queremos fazer. Espero que gostem dos links:
Se quiserem ver mais histórias antigas da Shoot em detalhes (tem muito mais de onde veio essa), respondam QUERO!
Oie. Meu nome é Luciano Braga. Sou realizador de diversos projetos criativos nas áreas da comunicação, comédia, ficção e impacto social. Boto minha energia em iniciativas que desafiam minha criatividade, que empoderam pessoas e que deixam um legado positivo no mundo. Quer me conhecer? Vem no meu Instagram.
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quarta-feira, 30 de abril de 2025
Links do mês #109 e o ano em que Porto Alegre virou um campo de golfe
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