Encerrado um jogo, alguém que assiste à transmissão online da partida tira um print e observa: nos últimos segundos da partida, um dos times estava com um jogador a mais em quadra. Ninguém havia notado: nem a equipe prejudicada, nem os árbitros, nem os delegados, nem o pessoal da arquibancada. O time prejudicado reclama e um diretor da entidade organizadora decide, sem citar qualquer dispositivo legal, que os últimos 12 segundos da partida devem ser jogados de novo, em outro dia. A decisão, que não passou pelo tribunal esportivo competente, altera os finalistas do campeonato. O episódio aconteceu no torneio de handebol mais importante do país, a Liga Handebol, cuja fase final foi jogada em São José (SC), na semana passada, e teve finais no sábado (10). A equipe prejudicada foi o Pinheiros, campeão paulista dias antes. Os paulistanos venceram o Itajaí-SC por 24 a 23, marcando o gol decisivo com um jogador a mais em quadra, uma falta grave, mas sem má-fé. Nas trocas constantes de jogadores, acontece de um entrar sem outro sair. Em situações assim, a arbitragem deve aplicar suspensão de dois minutos a quem entrou. Mas ninguém percebeu a infração. Quando ela foi notada, após a súmula ser fechada, o Itajaí reclamou de um "erro de direito" — quando o árbitro, conscientemente, toma uma decisão diferente do que manda a regra. Trata-se de claro "erro de fato", quando o árbitro não vê uma infração, como um pênalti não observado. Ao invés de o caso ser levado ao STJD, a decisão foi tomada pelo diretor jurídico da CBHb. Sem citar nenhuma legislação esportiva, ele determinou que 12 segundos da partida fossem jogados de novo, com o Pinheiros com um jogador a menos em quadra. Um único ataque, realizado no dia seguinte, sem sucesso para o Pinheiros. O lance mudou o campeonato. Pelo regulamento, só o campeão de cada grupo se classificava à final. Tendo já vencido o principal rival, o Pinheiros poupou o time contra o rival mais fraco do grupo, o Máquinas-MS. Quando o jogo foi refeito e terminou empatado, o primeiro lugar entre Pinheiros e Itajaí passou a ser disputado pelo saldo de gols. E aí quem se deu bem foi o Itajaí, que ainda jogaria contra o mesmo adversário, fez 34 gols de saldo, e avançou à final. Há quem considere, porém, que esse nem foi o fato mais bizarro da Liga, que programou oito jogos por dia em um mesmo ginásio em São José, quatro no feminino, quatro no masculino. No primeiro dia, quarta (7), dois times femininos atrasaram para chegar na cidade, vizinha a Florianópolis, e todo mundo concordou de os jogos delas serem transferidos para o fim do dia. O jogo masculino entre Cascavel, do Paraná, e Carajás, do Pará, foi um dos antecipados, mas, por causa de incidentes na estrada, boa parte do time paranaense não chegou a tempo. O Carajás esperou meia hora, como manda o regulamento, e saiu de quadra. A súmula foi fechada com a equipe paraense vencendo por W.O. Acontece que o Cascavel é o time do vice-presidente da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb), Cebola, que também é diretor, técnico e jogador da equipe do Paraná. Ele se revoltou com a situação e logo a confederação cancelou o W.O. e remarcou a partida para as 23h15, com previsão de terminar de madrugada. Aí foi a vez de Carajás se recusar a jogar, e ter o W.O. decretado contra si. Nem Jogos Universitários são tão bagunçados assim. E estamos falando do principal torneio de handebol do país, o que define os campeões nacionais no masculino e no feminino. Em pleno país do futebol, teve jogo rolando até durante a partida entre Brasil e Croácia pela Copa do Mundo, meio-dia de uma sexta-feira. Claro, não havia quase ninguém na arquibancada, e menos de 50 pessoas assistindo pelo streaming. Os relatos são deprimentes. Jogo com bola amadora, porque as bolas "oficiais" do campeonato só chegaram para o segundo dia, e falta de vestiário para todos os atletas. Tudo isso com uma transmissão simples pelo Youtube, com uma única câmera e um narrador, no canal da Federação Catarinense. Nada na televisão, nada nem mesmo no Canal Olímpico, do COB. Tem muito campeonato estadual juvenil que é mais bem promovido e distribuído. No fim, Itajaí, um time de garotos, brigou como gente grande contra Taubaté. Levou o jogo para a prorrogação, terminou na frente no primeiro tempo extra, mas acabou derrotado por 32 a 30. Foi o sétimo título de Taubaté, quarto consecutivo. No feminino, o título ficou com o Pinheiros, que atropelou o Clube Português do Recife (25 a 17), time do presidente da CBHb e do técnico da seleção. |
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