O bilionário Elon Musk comprou o Twitter na promessa de fazer da rede social um local para que qualquer um opine livremente. "Liberdade de expressão é a base do funcionamento da democracia, e o Twitter é a praça de discussão digital, onde são debatidos os assuntos vitais para o futuro da humanidade", disse. Mas a declaração de Musk deixou muita gente preocupada. Para o psicanalista Christian Dunker, colunista de Tilt, o bilionário não tolera o tempo do mundo. Para ele, cada segundo perdido é um terrível experiência de contrariedade e produz uma amarga sensação de que quanto mais poder, menos poder. Segundo Dunker, o que acontece com Musk é que o aumento do poder real gerou também maior impotência psíquica. Para o psicanalista, aqueles que possuem muito poder querem exercer mais poder controlando as regras do jogo. A insatisfação com a democracia vem do fato de ela parecer lenta, confusa e cheia de regras limitantes. "É assim que surge a tentação de que se o poder fosse mais transparente, tipo encarnado em uma pessoa, tudo isso seria resolvido, de tal forma que os problemas seriam resolvidos direta e pessoalmente por meio da concentração de poder em alguém muito poderoso: falta liberdade, abram as torneiras da liberdade (mas seu eu mudar de ideia fecho elas de novo)", afirma o colunista. O curioso é que o mero anúncio da compra do Twitter gerou um efeito mundial de crescimento das contas "de direita" na plataforma, que ganharam em torno de 50 mil inscritos, enquanto as contas de "esquerda", como as de Barack Obama, perderam algo em torno de 15 mil inscritos. Ainda que isso se deva à inflação de bots, a própria intervenção deste artifício nos ajuda a entender como o conceito de democracia pode ser afetado pelas práticas em estilo empresarial. "Ou seja, a nossa representação da democracia afeta nosso engajamento em processos e práticas 'democráticas', que por sua vez podem torná-los efetivamente menos democráticos", completa Dunker. O conceito de democracia, tal como a representam indivíduos muito ricos ou poderosos, pode se traduzir em práticas que, em nome da expansão da democracia, a customizam e a retraem, explica o psicanalista. |
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