Recife, 19 de julho de 2014. Estávamos radiantes. Nos preparamos, estudamos, fizemos cursos, assistimos vídeos, filmes e séries sobre o assunto e chegamos naquele sábado prontos. Lembro bem que no dia anterior fomos dar um passeio em um shopping daqui de Recife pra ver se Davi se animava pra sair daquele barrigão de 41 semanas e 2 dias. E não é que funcionou? No dia seguinte, cinco e pouca da manhã, Aline me acorda e avisa que a bolsa estourou. Veja bem, eu sabia bem o que fazer diante daquela informação. Afinal, falei que tínhamos nos preparado pra isso, né? Mas na hora bateu em mim um certo desespero e a vontade de correr pro hospital o mais rápido possível. Aline me acalmou e seguimos com tranquilidade. Nos preparamos para um parto normal. Era desejo dela com apoio meu e assim seguimos em trabalho de parto durante todo o dia. Lembro bem do comentário da minha mãe: "se for igual ao pai, vai passar o dia todo pensando se quer nascer ou não". Um pouco depois 17h, após muitas horas de trabalho de parto e ainda sem uma dilatação total, Davi inventou de fazer seu primeiro cocô ainda dentro da barriga, o famoso mecônio. Aí, por indicação da minha cunhada - obstetra que nos acompanhou nas gestações - e da neonatologista - que hoje é pediatra da nossa dupla - decidimos em conjunto partir para a cesárea. Nesse momento o clima mudou totalmente. Obstetra, neonatologista e anestesista assumiram uma postura mais séria e deixou o clima meio tenso no ar. Pra mim, não pra eles. Afinal, bloco cirúrgico é algo muito comum para todos que estavam ali. Deu tudo certo. Nosso branco nasceu, cortei o cordão umbilical e depois de uma rápida limpeza de mecônio foi direto pro peito da mãe. Minha gente, a relação desse pequeno ser com os peitos de Aline era uma coisa escandalosa. A união da vontade da mãe com o desejo da criança criou ali uma cumplicidade muito intensa. Eu não sei o que acontece com os homens que decidem não acompanhar esses momentos mais de perto. A relação mãe e filho nos seus primeiros meses de vida é uma das coisas mais viscerais que alguém pode presenciar. Você precisa querer muito ser pai pra se meter no meio deles dois e começar a criar os seus laços. Até entender qual era o meu papel ali eu sofri um bocado. O pai não tem a mínima ideia do que está acontecendo ali. É impossível uma mãe descrever para o pai do bebê a sensação desse maternar. A mãe não nasceu no parto. A mãe veio nascendo ao longo de toda gestação. Diferente do título dessa carta, eu não vi a Mãe Aline nascer. O que eu estava vendo ali era o resultado de todo amor que ela foi construindo ao longo de 41 semanas e 3 dias. O que eu estava tentando construir com Davi ela já tinha há tempos, fruto de uma dedicação e entrega que só quem carregou o filho na barriga sabe. Quando passou o período de sobrevivência total, aqueles três primeiros meses de muito aprendizado e preocupação, eu resolvi escrever uma canção pra eles. Isso mesmo. A minha ideia era escrever uma canção sobre aquela relação intensa que eu via entre os dois. Mas era uma coisa tão grande que seria muita ousadia minha querer falar sobre o que estava acontecendo entre eles. Então decidir escrever sobre o meu lugar no meio daqueles dois. Sobre as minhas ferramentas para me meter naquela relação sem parecer que estava tirando Davi do lugar mais seguro que ele tinha, tem e terá: o colo da mãe. Apesar da gente não saber como isso ia acontecer, existia um desejo familiar para que a coisa fluísse. Foi necessário uma conversa com as avós para que entendessem que a segunda pessoa na ordem de cuidados com o filho era eu. A mãe depois o pai. Até hoje eu agradeço a Aline por acreditar que eu era capaz disso. Ainda bem. E assim nasceu Pra gente se entender, uma canção sobre um pai ocupando o espaço de pai. Dela vieram os versos mais potentes e cheios de significado que já escrevi: Vou te apertar só pra te ver sorrir Você consegue imaginar o pai babão fazendo barulhos estranhos e cantando melodias aleatórias para que aquele "bebê da mamãe" preste atenção nele? Pois é. Essa música representa tanto pra mim que vocês não tem ideia. Depois vai ver o clipe que é muito lindo. Não é porque sou o pai, mas é que a mensagem da canção é emocionante mesmo :) Tá lá no meu canal do youtube. É só clicar aqui. E pra não terminar a carta de hoje com uma música sobre a paternidade, vou deixar aqui pra vocês o link do clipe da canção Colo, que escrevi em homenagem à maternidade de Aline, da minha mãe e da minha sogra. Mães com características diferentes mas que deram, dão e darão, sob qualquer circunstância, o colo quentinho pro filho se aconchegar. A música é de 2019 mas o clipe colaborativo com fotos das mães e seus filhos eu fiz o ano passado numa campanha linda com a participação de seguidores amigos e familiares. Clica aqui e vai assistir que é simplesmente maravilhoso. Desejo um Dia das Mães cheio de afeto pra você que é mãe, pra você que é filho ou filha e pra você que é pai e, como eu, encontrou o seu espacinho no meio dessa relação. Um xêro e até a próxima carta. Juliano Ribeiro, o Ruli. Não quer receber as cartas? Basta responder esse e-mail pedindo pra sair. |
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