Caro leitor, A Crusoé acaba de chegar à edição de número 150. São dois anos e dez meses de história, com centenas de reportagens publicadas que cumprem, com coragem, nossa maior missão: a de fiscalizar todos os poderes, sem amarras, sem paixões políticas por quem quer que seja e com o olhar no futuro do país. Nesse curto período, mostramos que no nosso jornalismo não há tabus. Para além das notícias do mundo do poder sempre a partir da perspectiva de quem espera que o Brasil possa, um dia, encontrar seu lugar na civilização, trouxemos apurações exclusivas sobre figuras relevantes de todas as esferas da cena pública.
Presidentes, senadores, deputados, ministros de tribunais superiores. Nenhuma autoridade escapa ao rigoroso escrutínio dos nossos repórteres, e esse é o sentido do nosso trabalho diário. A tarefa precípua do time da Crusoé é enxergar os movimentos da política sob a perspectiva do leitor mais exigente, que espera dos poderosos honestidade e comprometimento com o bem-estar e a satisfação não deles próprios, mas da sociedade em geral. Nosso compromisso com você, que se dispõe a contribuir com o nosso jornalismo independente, que não aceita patrocínios oficiais nem é sustentado por empresas envolvidas em escândalos, é simples: te representar, a partir dos postos avançados que a profissão nos proporciona, fazendo as perguntas necessárias, cobrando as explicações necessárias e sendo severos nas críticas necessárias. Como parte da missão, que faz com que sejamos odiados e, com certa frequência, até perseguidos pelas excelências que não andam na linha, nos cabe apontar tendências, antever as jogadas do poder que atentam contra o interesse público. Há exatamente dois anos, por exemplo, começamos a mostrar que estava em gestação em Brasília um acordão. O presidente que havia acabado de tomar posse depois de ser eleito abraçado à bandeira anticorrupção e prometendo refundar as bases da política estava disposto a negociar com a velha política. Foram várias as capas que publicamos expondo os sinais dessa trama, hoje tão explícita, que fez reinar novamente a confortável confiança na impunidade ( confira nas imagens abaixo e clique sobre cada uma delas para ler as reportagens, neste momento abertas inclusive para não assinantes).
O resultado prático desse rearranjo está no enfraquecimento de instituições como a Polícia Federal e o Ministério Público, até há pouco empenhadas em investigar, processar e punir desvios, e no relaxamento das interpretações do Poder Judiciário, especialmente em suas instâncias de topo, cujas decisões têm sido mais benevolentes com investigados, réus e condenados de sobrenomes famosos. Ao mesmo tempo, o Congresso Nacional, pelas mãos de figuras também interessadas, atua deliberadamente para tornar mais flexível a legislação que vinha permitindo as punições.
O cenário é grave e faz o Brasil retroceder algumas importantes casas que já havia vencido na tentativa de se livrar da triste marca de república subdesenvolvida apinhada de corruptos. O novo quadro, de moldura antiga e conhecida, agrada a forças políticas e econômicas de diferentes espectros, de ontem e de hoje, que se viam ameaçadas ou até já tinham percebido na pele que, em um país com instituições fortes que aplicam a lei, crimes são passíveis de sanções.
Ironicamente, a nossa edição de número 150 destaca a anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de um despacho espantoso de um ministro da Suprema Corte baseado em argumentos que ele mesmo já havia rejeitado algumas vezes. Na nova pax brasiliense, arrematada no auge de uma triste catástrofe sanitária, tudo é possível — inclusive exercitar a conhecida jurisprudência de ocasião. Lula, sorridente, se aproveita do momento e posa de inocente. Age como se absolvido estivesse, e como se os desvios bilionários do petrolão, com provas aos borbotões, nunca tivessem existido. Os construtores da nova ordem vigente manipulam a realidade porque desejam se blindar. Querem, por óbvio, proteger o velho establishment que, nos últimos anos, foi desafiado por investigações nunca antes vistas. Para quem lê a Crusoé , era pedra cantada. Prestes a completar três anos, a revista segue em seu propósito. Se lá fora fazem vista grossa e dão ares de normalidade a sintomas tão graves da desordem institucional que ameaça o progresso do país, em nossa ilha tratamos as coisas como elas são e as chamamos pelo nome. Assim continuaremos fazendo. A você que já é assinante, o nosso muito obrigado. A você que ainda não é, faço aqui o convite para que se junte a nós e contribua para que sigamos realizando nosso trabalho, mais do que nunca necessário.
Um abraço, Rodrigo Rangel Diretor de Redação
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