A guerra da Rússia contra a Ucrânia é o principal assunto do momento. E parte do conflito tem tudo a ver com tecnologia. Começa pelo fato de que, além dos ataques militares de fato, que estão deixando centenas de mortos e feridos, há também uma batalha de informações sendo travada por ucranianos e russos na internet. Numa espécie de "guerra de memes", a Ucrânia está levando vantagem, pelo menos nas redes sociais ocidentais, de acordo com o colunista Carlos Affonso de Souza. O que rolouOs ucranianos estão conseguindo emplacar histórias e imagens que ajudam a construir a visão do mundo sobre o conflito. Momentos e personagens icônicos se confundem com lendas urbanas, notícias truncadas e guerra informacional. O objetivo é criar uma série de conteúdos virais que já deixaram a sua marca nessa guerra. Histórias como a da resistência dos heróis da Ilha das Cobras, as supostas façanhas aéreas do Fantasma de Kiev e o "alistamento" da Miss Ucrânia são apenas o começo. E pouco importa se são verídicas ou não. Em pleno ano de 2022, transformações tecnológicas possibilitaram registros da invasão ao território ucraniano que circularam em segundos pela internet e redes sociais E é por essa mesma internet que ativistas estão conseguindo se unir para ajudar a Ucrânia. Segundo a colunista Letícia Piccolotto, umas das iniciativas online é o portal "formas reais de ajudar a Ucrânia sendo um estrangeiro". Trata-se de um crowdsourcing —uma forma de compilar informações de maneira colaborativa— criado pelo hub ucraniano "Global Shapers", ligado ao Fórum Econômico Mundial. Outro exemplo é o "Mundo com a Ucrânia". Uma chamada aberta a inovadores, empreendedores e ativistas que possam propor ações para apoiar o país em diferentes áreas, como captação de recursos, comunicação e ajuda humanitária. "Embora o momento seja sombrio e de tristeza, também há lugar para a esperança: de que a tecnologia seja utilizada como ponte para conectar mentes inovadoras; e combustível para que reconheçamos, de uma vez por todas, que o poder de gerar transformações está nas mãos de todos e cada um de nós", escreveu Piccolotto. Havia também um certo temor de que a Ucrânia sofresse ataques cibernéticos capazes de afetar estruturas físicas estratégicas do país. O histórico de ameaças hacker capazes de afetar estruturas físicas estratégicas para um país levou alguns dos principais analistas internacionais a assumir que dariam o tom da invasão da Ucrânia, como lê-se neste artigo da revista Politico. De fato, coisas do gênero aconteceram. Um pouco antes da invasão, a Ucrânia sofreu um grande ataque cibernético, que afetou o funcionamento de caixas automáticos, entre outras máquinas. Contudo, apesar de uma ou outra ação, não é isso que estamos vendo. O colunista Alvaro Machado Dias explica que a Ucrânia vem se preparando para ataques complexos a instalações militares e infraestruturas importantes desde o hackeamento da rede elétrica de Ivano-Frankivsk, em 2015. Além disso, os ataques cibernéticos fazem sentido quando o objetivo é evitar o confronto direto; com a invasão em curso, bombas e tiros fazem o trabalho de maneira mais simples e barata, ainda que mais suja. É possível perceber ainda como a internet está sendo usada para campanhas de fake news, sobretudo por parte da Rússia. A ideia do governo de Vladimir Putin foi dar a noção de que a Ucrânia é um grande celeiro de neonazistas. Nesta narrativa, o papel do Kremlin seria o de desnazificar o país. A linha de montagem das medidas ativas incluiu um batalhão de hackers, voltados à criação e administração de robôs orientados à disseminação de notícias falsas como essa e outras, em redes sociais como o TikTok, grupos do Telegram e qualquer outro veículo digital que pintar pela frente, incluindo revistas científicas de baixo prestígio e blogs de política, esquentados por anos para dar apoio à desinformação, nos momentos certos. Outra prática hacker também importante é o Distributed Denial of Service (DDoS), um tipo de ataque cibernético em que milhares de computadores ao redor do mundo são recrutados para acessar simultaneamente um alvo, tirando-o do ar, sem que seus proprietários tomem conhecimento da ajudinha que estão dando. Como se vê, o drama da guerra também se faz presente de forma virtual, afetando diretamente a vida dos envolvidos e a maneira como as informações sobre o conflito chegam às pessoas de todo o mundo. |
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