Ela parece café e pode te ajudar a combater até a pior manifestação de refluxo  | Lara Gabriela Cerqueira, Nutricionista especializada em Fitoterapia | Olá, tudo bem? Talvez você fique chocado com a informação que trago hoje. Quero te contar sobre uma planta, muito popular no Brasil inteiro, que tem ação semelhante à de um antibiótico e ainda é capaz de tratar lesões causadas pelo refluxo. Essa planta é a guaçatonga, cujo nome científico é Casearia sylvestris. Ela cresce por toda a América tropical, do México à Argentina, com variações de tamanho para se adaptar aos diferentes climas. Pelo Brasil, ela também atende pelos nomes populares de chá de bugre ou café de bugre. Isso porque a guaçatonga realmente lembra um pé de café.  A árvore tem ramos compridos e flores brancas que nascem entre as folhas. Seus frutos negros são pequenos e redondos, como os do café. Existem centenas de pesquisas que mostram os efeitos gastroprotetores da guaçatonga — umas das que chamou mais a minha atenção foi feita pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Eles constataram, tanto no laboratório como em animais, que a erva é capaz de exterminar as colônias da bactéria H. pylori. A perigosa H. pylori Talvez você não seja familiarizado com a H. pylori — nome completo desse problema é Helicobacter pylori . Ela é uma bactéria super comum em casos de refluxo, já que se aproveita da saúde fragilizada para atacar nosso corpo. Bem acomodada à acidez do estômago, essa bactéria começa a se alimentar da mucosa, que é justamente a camada que separa o ácido da parede do estômago. Depois, ela passa a produzir uma enzima tóxica para reduzir a acidez estomacal. Quanto menos ácido for o estômago, mais confortável o H. pylori estará por lá. E aí, além do refluxo "normal" (como se a queimação e o enjoo já não fossem desagradáveis o suficiente), a H. pylori agrava ou causa sintomas como dor ou queimação, náuseas e vômitos. Ou seja: é bem comum que o que você chama de refluxo seja, na verdade, uma infecção por H. pylori. E o problema é que é bem complicado combater essa bactéria. Para se ter uma ideia de sua ameaça, em 2017, a H. pylori entrou para a lista criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) das bactérias mais resistentes a antibióticos. E, em 2019, durante o Congresso da União Europeia de Gastrologia, pesquisadores apontaram que a resistência da H. pylori a antibióticos dobrou em 20 anos. Mas diante de um quadro de infecção por H. pylori , as pessoas geralmente cometem um grande erro: recorrer ao omeprazol. A função desse medicamento, tão popular e vendido indiscriminadamente, é inibir a produção do ácido clorídrico. Isso pode até te dar um alívio pontual… Mas agravará seu quadro de refluxo, e você estará ainda mais suscetível ao crescimento desordenado de bactérias ruins e às lesões no esôfago e estômago. Existem no mercado antibióticos que combatem o H. pylori, mas, como já dissemos, essa bactéria é resistente a muitos deles. E por isso é tão extraordinário saber que a guaçatonga é capaz de exterminar essa bactéria. Além disso, a erva também ajuda a desinflamar e cicatrizar úlceras. Em um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), os extratos da planta reduziram o tamanho da ulceração e aumentaram o número de fibras de colágeno após cinco dias de tratamento. Apesar do estudo ter sido feito em animais, os resultados confirmam o que a população que usa esta planta reconhece há anos. Como consumir A forma mais simples de consumir a guaçatonga é por meio do chá de suas folhas. Se você não encontrar a erva na sua região, também pode usar a tintura. Para fazer o chá, use uma colher de sopa de folhas frescas ou uma colher de sobremesa de folhas secas (cerca de 2 gramas) para cada xícara de água (150 ml). Deixe a guaçatonga em infusão por 10 minutos, coe e beba. Se preferir usar a tintura, dilua 15 a 20 gotas em 200 ml de água. Você pode tomar até três xícaras de chá ou de tintura diluída em água por dia. O ideal é tomar a mistura antes das refeições. O uso da guaçatonga é contraindicado durante a gestação, lactação e para menores de 18 anos. O uso prolongado pode prejudicar a síntese de vitamina K e potencializar a ação de anticoagulantes. Por isso, aposte na guaçatonga por até 28 dias. Após esse período, se persistirem os sintomas de refluxo, procure outra opção natural. Caso já faça uso de medicamentos para esse tratamento, busque a orientação médica para sugerir o desmame ou iniciar a terapia como primeira escolha. Na série Plantas & Bem-estar, eu apresento duas ervas que trazem alívio dos sintomas e podem ajudar nesse rodízio de produtos naturais. Para conhecer a série Plantas & Bem-estar, clique aqui. Espero que a guaçatonga te ajude a ter alívio! Te vejo na próxima,  Referências bibliográficas: - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopéia Brasileira. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2021, 2ª edição. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/formulario-fitoterapico/arquivos/2021-fffb2-final-c-capa2.pdf
- GODOI, Ana Paula T. de. Estudo do óleo essencial de Casearia sylvestris e da Formulação de Enxaguatório bucal. Tese de dourorado. Universidade de São Paulo, 2013.
- Jolivi Publicações. De A a Z: A enciclopédia das plantas medicinais . São Paulo: Jolivi Publicações, 2020.
- MEGRAUD, Francis et al. Helicobacter pylori resistance to antibiotics in Europe and its relationship to antibiotic consumption. Gut; vol. 62,1 (2013): 34-42. doi:10.1136/gutjnl-2012-302254
- SPÓSITO, Larissa. Caracterização biológica e prospecção terapêutica de Casearia sylvestris Swartz não incorporada e incorporada em sistema nanoestruturado na atividade anti-Helicobacter pylori. Dissertação de mestrado. Ciências Farmacêuticas - FCFAR/UNESP. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/151228
- TACCONELLI, E. (Infectious Diseases, DZIF Center, Tübingen University, Germany); MAGRINI, N. (WHO, EMP Department). Global priority list of antibiotic-resistant bacteria to guide research, discovery, and development of new antibiotics. OMS (WHO), 2020. Disponível em https://www.who.int/medicines/publications/WHO-PPL-Short_Summary_25Feb-ET_NM_WHO.pdf
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